O som ecoa alto e forte nas ruas. A música em Marechal Deodoro é natural. Está no sangue do deodorense, que passa de pai para filho, de avô para neto, de vizinho para vizinho. Há um ditado engraçado que diz: “por aqui quando nasce um menino, o pai joga um bolo de barro molhado na parede; se cair, o menino vai ser pescador, se agarrar vai ser músico”.

De Seu Zezinho do Sax a Nelson da Rabeca, de uma banda filarmônica centenária a outra mais jovem, o certo é que as notas constroem a cidade, que tem esta arte intrínseca na sua história. 

Em Marechal, fica evidente que a música representa um patrimônio cultural, sendo responsável por promover valores que vão muito além da prática em si. 

A mais antiga Sociedade Musical da cidade é a Santa Cecília. Fundada em 1910 pelo Padre José Belarmino Barbosa, conta com uma formação profissional, uma banda mirim, além das aulas de música. 

Essa e outras filarmônicas são responsáveis pela formação musical e pessoal de diversos jovens, que ingressam por influência da família ou interesse próprio. Vivendo em uma cidade onde a cultura da música é contagiante, fica evidente que é difícil ficar longe dela. 

A saída de Maceió para Marechal Deodoro é pela Assis Chateaubriand, que corre paralela ao mar, na Praia da Avenida. A ponte sobre a Lagoa Mundaú marca o início do trecho sul da AL-101, que conta com pista duplicada.

Além da Mundaú, também é possível atravessar a Lagoa Manguaba, o que faz qualquer pessoa finalmente entender o porquê do nome do estado. A “Mãe Lagoa” toma suas ramificações pelos bairros de Santa Rita, Barra Nova e Massagueira, até chegar em Marechal e expandir sua majestade.

A história de Marechal Deodoro e a música

Marechal Deodoro, Penedo e Porto Calvo formam o grupo das primeiras povoações que deram origem ao Estado de Alagoas. 

Datada do final do século XVI, a cidade, originariamente Vila de Madalena, Madalena da Sumaúma, Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul e Alagoas do Sul, devido à presença, em seu território, das duas lagoas mais importantes da região, Manguaba e Mundaú, foi sede do governo de 1817 até 2 de novembro de 1839, quando a capital passou a ser Maceió.

A cidade só se tornou Marechal Deodoro em 9 de novembro de 1939, em homenagem ao seu filho ilustre, que proclamou a República, Marechal Deodoro da Fonseca.

Marechal é rica em cultura e beleza, retratadas no seu casario colonial, nas igrejas, nos prédios oficiais, nas ruas estreitas e tortuosas, fragmentos do passado em todos os seus recantos, na beleza natural dos coqueirais e nas ilhas e manguezais.

Marechal Deodoro é uma cidade lagunar e atlântica, além de ser entrecortada pelos rios Sumaúma, Utinga, Remédios e alguns riachos. Possui ainda cinco conhecidas ilhas: Santa Rita, do Porto, das Cabras, do Maranhão e dos Bois. É, pois, nessa geografia banhada por águas salgadas e doces, onde se desenrolam importantes fatos da história e onde encontramos razão para os costumes e tradições. 

Marechal Deodoro era parada obrigatória para viajantes, desbravadores e missionários franciscanos que, vindos da Bahia, margeando o São Francisco, formavam núcleos e se espalhavam pelos sertões para catequizar os índios. 

É aí que surge a figura da paróquia. Em 1585, foi criado o primeiro convento franciscano do Nordeste, na Vila de Olinda – Pernambuco. Daí, até 1660, outros 22 conventos foram construídos, sendo três deles em Alagoas, exatamente em Penedo, Porto Calvo e em Marechal Deodoro. 

Neste último, o convento da Ordem Terceira de São Francisco e a Igreja de Santa Maria Madalena, que abriga o Museu de Arte Sacra hoje, começava a entoar os cantos da paróquia. Entre 1560 e 1880, foram construídas, em Marechal Deodoro, mais sete igrejas.

Além do fato de estar cercada de água e propiciar o fluxo cultural, Marechal sempre teve uma tradição cívico-militar. É uma cidade que sempre formou militares – lugar onde também encontraram a música. 

A soma desses elementos forma uma característica de música de banda. Os moradores de Marechal enxergam sua profissionalização incorporada ao exército ou à igreja. A banda não é apenas o exercício de uma arte, ou uma forma de entretenimento ou lazer, mas também representa um dever. A tendência para aptidão musical encontra um campo fértil na cidade da Mãe Lagoa. É um poderoso instrumento social.

Projetos musicais de Marechal Deodoro

Sociedade Musical Filarmônica Santa Cecília

Foi pelo desejo e determinação do Padre Belarmino, pároco do lugar, que queria ver a procissão do Sagrado Coração de Jesus acompanhada por uma banda de música, que a primeira iniciativa de formação de uma banda para a cidade de Marechal Deodoro surgiu. 

Convocou então seu irmão e músico Numo Barbosa, que junto a um grupo de outros idealistas e amantes da música, fundaram a Sociedade Musical Filarmônica Santa Cecília, em 1910. A partir daí, o gosto pela música encontrou eco e adeptos e, no decorrer deste século, a Santa Cecília tornou-se a mais tradicional filarmônica e escola de música em Marechal Deodoro.

Sociedade Musical Carlos Gomes

Segundo o compositor, arranjador e maestro José Ramos, tem-se notícia de que foi a partir de uma divergência entre alguns dos membros da filarmônica Santa Cecília, que um grupo dela se desligou e formou a Sociedade Musical Independente, que, em 1915, recebeu o nome oficial de Sociedade Musical Carlos Gomes, homenageando um dos maiores expoentes da música no Brasil, Antônio Carlos Gomes. 

A Banda recebe variada nomenclatura, dependendo de sua formação ou função: Sociedade Musical, Filarmônica, Euterpe, Lira, Clube Social, Corporação Musical, Grêmio, Agremiação Beneficente, Grupo, Operária. A Banda representa um apoio, uma atração, um reforço, um toque de animação ou entretenimento em qualquer comemoração, evento ou solenidade, sendo ainda convocada para acompanhar cortejos religiosos ou fúnebres da cidade.

Músicos ilustres de Marechal Deodoro

José Romeiro Neto, ou como ele mesmo se apresenta, Zezinho do Sax, é um músico muito conhecido em Marechal Deodoro. Para os moradores, Zezinho e o instrumento são um só, que divertem, encantam e emocionam quem ouve suas valsas, boleros e choros. 

Ele garante que é o músico mais antigo da região e que o remédio é a alegria e a música. Seu Zezinho seguiu os ofícios do pai, que, além de músico, era pescador. Casado e com seis filhos, o mestre já integrou algumas das filarmônicas da cidade, tendo sido inclusive maestro.  

Cada partitura está guardada em sua memória. Ele atribui aos mais de 75 anos de estrada. 

A música parece estar no sangue de sua família: filhos, netos e bisnetos também seguiram a carreira de músicos ou, ao menos, aprenderam a tocar instrumentos. 

Ao contrário do que aconteceu com Zezinho do Sax, Nelson da Rabeca ingressou no mundo da música mais tarde. Apenas aos 54 anos ele descobriu sua aptidão, que vai além de tocar algum instrumento. Ele também os produz. Hoje, vive da venda de suas famosas rabecas e suas ilustres apresentações. 

Antes trabalhava em um canavial. Conta em uma entrevista que não tinha nem onde morar quando conheceu a música e aprendeu a tocar sozinho. “Eu vi um cidadão tocando um violino na televisão e achei aquilo muito bonito, mas não sabia o nome. E cortando cana, limpando mato, todo sujo de carvão, eu cortei uma madeira e decidi fazer o meu próprio instrumento, terminei fazendo a rabeca”.

Relata que trabalhava quatro dias no canavial e aos sábados e domingos ia até a Praia do Francês para tocar. O dinheiro que ganhava de meio dia pra quatro horas da tarde tocando, era mais que dentro de um mês trabalhando no campo.

Depois começaram os shows em Maceió, Salvador, Fortaleza, Recife e São Paulo. Até chegar a tocar no inverno norueguês. Considerado pela Secretaria Estadual de Cultura (Secult) Patrimônio Vivo de Alagoas desde 2009, o mestre das rabecas já gravou quatro CDs e dois DVDs.

Nelson da Rabeca falecera nesse ano de 2022, deixando um legado inestimável.

A música em Marechal Deodoro: uma veia que pulsa

As apresentações e concertos públicos das filarmônicas normalizaram na comunidade o hábito de a eles assistir. Saber ouvir e apreciar faz parte da cultura desse povo, acostumado ao som dos metais, das madeiras e da percussão. 

Essa íntima relação entre as bandas musicais e a comunidade de Marechal Deodoro vem justificar o grande número de músicos e a tradição cultural que se mantém por várias gerações através dos tempos.

Além do ensino da música, está embutido a prática da cidadania, da moral e da disciplina. Presta essas orientações, capacitando cada interessado como cidadãos e profissionais, ampliando conhecimentos e possibilidades de socialização e inserção no mercado de trabalho. 

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